O Compliance além do óbvio

Por Marcelo Bueno
Especialista em Gente & Gestão
Athros Auditoria e Consultoria

 

Podemos definir compliance como “Ferramenta que as instituições utilizam para nortear a condução dos próprios negócios, proteger os interesses dos clientes e salvaguardar o seu bem mais precioso: a reputação” (livro compliance 360°). Entendo ser oportuno acrescentar a essa definição: proteger os interesses de forma coletiva dos colaboradores e da sociedade inserida na organização como fornecedores, parceiros etc.

Assim, podemos afirmar que as boas práticas de compliance nos conduzem à auxiliar as pessoas para que tomem as melhores decisões e façam a coisa certa exercendo bem o seu papel.

Portanto, é imprescindível considerar o ser humano no centro do compliance, compreender seus comportamentos, crenças, culturas, valores, sua moral e sua ética, alinhado com suas tomadas de decisões dentro de um padrão de normas legais e/ou políticas com diretrizes aceitáveis em prol de um bem maior do que o seu próprio. Considerar ainda que as decisões passam por um processo de pensamento, sentimento e ação de forma racional ou algumas vezes irracionais.

Parece óbvio seguir regras em prol da maioria, certo?

As boas práticas de compliance na sua maioria são tópicos óbvios, ou seja, condutas naturalmente esperadas de todos os envolvidos, no entanto, a todo momento presenciamos no mundo corporativo violação das práticas de compliance sendo necessário a revisão constante do código de conduta, código de ética, manual de anticorrupção etc.

Por que é tão difícil para algumas pessoas respeitarem regras, normas e leis?

O psicanalista Cristian Dunker, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) diz que “uma coisa é como aprendemos as regras de forma geral e a outra é como as tornamos nossas e as obedecemos de forma autônoma. ”

Podemos também analisar a questão sob o ponto de vista de alguns pesquisadores que associam o comportamento à ideia de narcisismo: a lei foi feita não para todo mundo, mas para punir alguns e privilegiar outros.

Sendo assim as decisões de seguir as regras também podem envolver comportamentos de poder ou sentimento de injustiça?

Segundo a biomédica Liana Guerra Sanches, coordenadora de Neurociências do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, em SP, ao lado da formação do entendimento de regras e de conceitos individuais e coletivos, a sensação de poder pode levar a diferentes caminhos de decisão.

Não parte do cérebro a atitude de seguir as regras, essa ação é modulada pela construção daquele indivíduo, por isso é tão variada e difícil, entrando as experiências, influências e memórias.

Assim, faz-se necessário traduzir o óbvio, não em palavras e sim em comportamentos das autoridades que as simbolizam, ou seja, os líderes de uma organização devem ser exemplos para todos.

Por exemplo, admita-se que em determinado manual de ética conste a seguinte norma: “Não devemos ocultar quaisquer informações sobre qualquer conflito de interesse”.

Como essa frase é interpretada pelas pessoas? Como vivenciamos o conflito de interesse? Será que o que eu entendo sobre conflito de interesse em determinada situação será o mesmo para você? Os líderes da empresa vivenciam essa questão? Será que demonstram por meio de suas tomadas de decisões e comportamentos que seu interesse está em segundo plano perante o coletivo?

Garantir a conscientização constante mediante treinamentos, reuniões de brainstorming e mais: substituir uma punição rígida por uma punição orientativa, desenvolvendo ações de respeito coletivo constante para que o certo a se fazer se torne óbvio e ainda, compreender o ser humano, é uma competência fundamental em um programa de compliance bem estruturado com o objetivo de maximizar uma cultura mais respeitável nas tomadas de decisões de uma organização.

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